Caminheiros

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DRAVE

Acredito que não existam muitos sítios onde o Homem e a Natureza coexistam numa perfeita harmonia. Pessoalmente só conheço um, a Drave. A vida aqui não devia ser fácil, mas os que por cá passaram lutaram por isso, ergueram socalcos, açudes e levadas, cultivaram, criaram gado, levantaram casas, currais, palheiros e pontes. Tudo o que aqui está na Drave é suor e é fé, e ainda assim só vejo o verde das árvores, o amarelo dos campos, o cinzento do xisto, o azul da água. Aqui a Natureza persiste em brilhar porque há mesmo aquele raro equilíbrio. Aquele raro equilíbrio que me faz sorrir por dentro ao por do sol, ou na noite sem nuvens, ou na manhã da primavera. Aquele raro equilíbrio que me faz sentir mais perto de Deus, de uma forma tão clara, quase gritante.

Mas para mim a Drave ainda é mais que tudo isto. Para mim a Drave é e será sempre a minha Base. Onde não sou só uma visitante, sou uma Caminheira na minha Base, no meu refúgio onde tudo se torna mais claro e certo. E não é só a minha Base, é a Base de todos os Caminheiros desde há 10 anos, e mesmo antes disso por aqui passaram muitos mais Caminheiros. Sinto mesmo que o Caminheirismo foi aqui fundado e cada passo que dou já algum Caminheiro um dia por aqui o deu. E com isso na mente os meus passos são mais firmes, e a minha coragem de subir (em direção ao Homem-Novo) cresce. Aqui a nossa mochila livra-se do peso a mais, as nossas botas ficam com menos sola, a nossa guitarra com menos cordas, as nossas vozes ficam mais roucas, a nossa vara bifurcada fica mais firme. Mas por dentro, estamos mais vivos, mais despertos, mais sábios e mais ardentes do que nunca.

E quando subimos o monte e chegamos ao alcatrão? Nada disto se esquece.

Margarida Botelho